Gráfico publicado no Uol e na Folha de São Paulo |
Tomara que o círculo próximo à presidenta não opte pela saída primária de desqualificar de alto a baixo a pesquisa. Não dá para comemorar pesquisas do Datafolha e Ibope quando são favoráveis e demonizá-las diante de resultados negativos. Longe de mim pôr a mão no fogo pelos dois institutos. Ao contrário, na história recente do país, eles protagonizaram erros grosseiros e consultas com fortes indícios de manipulação política. Mas, é forçoso reconhecer que Datafolha e Ibope acertam bem mais do que erram. Isso porque os institutos empregam metodologias e técnicas estatísticas que, sempre que a salvo da manipulações, produzem resultados próximos da realidade.
Algumas pesquisas apresentam resultados mais complexos, com dados às vezes contraditórios sobre a perspectivas, sentimentos e preocupações da população, representada pelo universo pesquisado. Não é o caso da última pesquisa do Datafolha sobre a popularidade da presidenta. Seus dados são cristalinos : o prestígio do governo caiu por uma combinação de três fatores : preocupação com a inflação, percepção de que a economia do país vai piorar e medo da volta do desemprego, claro, como consequência da eventual deterioração dos fundamentos econômicos.
O massacre da mídia monopolista, sem resposta do governo, conseguiu abalar o otimismo de um contingente de brasileiros, de todas as faixas de renda, idade e escolaridade. Em que pese ainda mantenha forte apoio em todas as regiões, especialmente no Nordeste, a presidenta caiu em todas elas. No Sul, o estrago foi maior. Nos quesitos renda e escolaridade, a queda mais acentuada se deu entre as pessoas com curso superior e que ganham mais de dez salários mínimos.
Quem mantém a antena política ligada percebeu, de uns dois ou três meses para cá, essa guinada no conceito da população sobre o governo . Em conversas com taxistas, com frequentadores dos botecos da vida, com o pessoal das filas de bancos e supermecados, com a galera que marca presença nos jogos de futebol, essa mudança de humor em relação ao governo era notável. Entre os iniciados em política e a turma mais informada das redes sociais, idem.
Para tentar entender o fenômeno, tracei um paralelo entre a ação do PIG e a inação do governo em alguns episódios :
1) O terror do tomate e a inflação - A sensação de que os preços subiram é generalizada. Não é à toa que 80% dos consultados pelo Datafolha se queixaram da carestia dos alimentos. Usando o tomate como símbolo, a mídia monopolista explorou o máximo que pôde o problema, mentindo, exagerando, disseminando o pânico da volta do dragão inflacionário de outrora, pronto para devorar os salários e a renda das famílias. Bastava, porém, o governo enfrentar essa avalanche usando como armas a verdade e os fatos. Ou seja, o preço dos alimentos subiu devido a fatores sazonais, como a quebra da safra anterior e o aumento no valor das commodities no mercado internacional. Se os responsáveis pela comunicação do governo captassem a gravidade do momento, teriam investido no esclarecimento de que a inflação nunca estourou a meta, que a alta dos índices já está cedendo e que logo os preços dos alimentos, o grande vilão da inflação, sofrerão os efeitos positivos da recente safra recorde .
2) O tiro no pé da subida dos juros - Ao se curvar à pressão do rentismo e aumentar a taxa Selic por duas vezes consecutivas, abortando uma longa série de quedas, o Banco Central acabou jogando lenha na fogueira do terror inflacionário. Mesmo diante dos sinais de recuo da inflação, detectadas pelos últimos levantamentos parciais, o BC pegou pesado em 0,5 ponto percentual, na última reunião do Copom. Ficou a óbvia impressão na sociedade de que o problema da inflação dever ser mesmo grave, a ponto de o governo ter voltado a subir os juros. Cabia à presidenta ser mais firme e assertiva sobre o assunto. Em lugar disso, mais uma vez, o silêncio.
3) O "pibinho" - O Brasil tem sérios gargalos de infraestrutura, mas o governo muito tem feito para superá-los. O nível de investimento do setor privado é baixo, mas o governo tem buscado despertar o "espírito animal" dos empresários, através de incentivos, concessões, parcerias e desonerações. Contudo, a mídia sabota e faz campanha para que os capitalistas só ponham a mão no bolso depois de 2014. Por sua vez, o investimento do setor público só faz crescer. Pois bem, diante de um PIB do trimestre abaixo do esperado, o governo se retrai. Por que não bater na tecla de que, apesar de tudo, o nosso resultado é muito melhor do que o dos EUA e de toda a Zona do Euro, modelo trágico de economia tão preconizado pela mídia brasileira ? Por que não brandir os quase 20 milhões de empregos criados na era Lula-Dilma ? O Brasil gerou mais emprego em abril passado, por exemplo, até do que os EUA, maior economia do planeta. Enquanto isso, milhões vagam na Europa sem trabalho e sem perspectiva, provocando uma macabro aumento do número de suicídios. Alguém, por acaso, ouviu a presidenta fazendo essas comparações com a ênfase necessária ?
4) O gol contra do Bolsa Família - Chega a ser inacreditável que o governo tenha perdido para os golpistas da mídia a disputa de versões sobre a corrida ao saque dos benefícios do Programa Bolsa Família, que gerou convulsão em agências da Caixa em vários estados do Nordeste, principalmente. Depois de ter, acertadamente, colocado a Polícia Federal no caso (que chegou a apontar uma empresa de telemarketing do Rio como responsável pelo boato), de repente a direção da Caixa vem a público admitir um erro da antecipação dos pagamentos e pedir desculpas Ora, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.Mudança de cronograma nada tem a ver com boicote. Mas o governo se encolheu diante da autocrítica da Caixa e, como sempre, se calou. Resultado : proliferou no PIG a versão de que tudo não passou de uma barbeiragem da Caixa. E pior : que fim levou a investigação da Polícia Federal. Ao que tudo indica foi enterrada . Dá-lhe, Cardozo !
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