quinta-feira, 12 de setembro de 2013

As manobras rasteiras de Barbosa

É impressionante que não cause nenhum constrangimento a um presidente de suprema corte o apelo a manobras tão baixas e vis. Primeiro, na sessão do STF de quarta-feira, que votava o acolhimento ou não dos embargos infringentes, na Ação Penal 470, Barbosa suspende a sessão monocraticamente, atordoado com o placar de 4 a 2 favorável aos embargos. O objetivo mal disfarçado foi ganhar 24 horas para acionar a matilha da mídia golpista e pressionar a próxima a votar, a ministra Carmem Lúcia.

Bingo. Missão coroada de êxito. A ministra, cuja inclinação de voto pendia para o sim aos embargos, mudou de lado. Aliás, cabe registrar, votou estranhamente pela primeira vez em dissonância com a ministra Rosa Weber. As duas ministras mulheres vinham até então se posicionado de forma idêntica desde o início do julgamento, em agosto do ano passado. Talvez a ministra cultive o mau gosto extremo de ler Merval Pereira (o 12º ministro do Supremo, segundo Paulo Henrique Amorim) todos os dias.

É que na sua coluna no Globo desta quinta-feira, Merval expressara sua contrariedade com os novos ventos que sopram sobre o STF elencando um amontoado de argumentos que vão do cinismo mais deslavado à desonestidade intelectual sem maquiagem, passando por uma cara de pau que deve trazer até dificuldade para que ele se mire no espelho. Diante de um julgamento político e de exceção jamais visto na história do Supremo, feito sob medida para incriminar o PT, o acadêmico de fancaria teve o topete de escrever que o provável acolhimento dos infringentes era uma decisão política.

E tome ataque à nova composição do tribunal. Na pena de Merval, subitamente o STF deixou de ser o vingador da sociedade para se transformar num colegiado susceptível a pressões políticas. Voltando à apreciação dos infringentes, retomada nesta quinta-feira, depois do voto contrário de Gilmar Mendes, que, espumando de ódio contra os petistas, nada mais fez do que realçar sua condição de militante das causas mais reacionárias e obscurantistas, foi a vez do primo de Collor de Mello proferir um longo, confuso e estratégico voto pelo não recebimento dos embargos.

Estratégico porque se arrastou o tempo necessário para que Barbosa suspendesse a sessão logo em seguida, sem dar a palavra ao último ministro a votar, Celso de Mello. É tão simples quanto estarrecedor. Sabedor de que  Celso de Mello tem conhecida posição pública em favor dos infringentes, manifestada inclusive durante o julgamento da Ação Penal 470, Barbosa apagou a luz e fechou a porta, à espera das capas, manchetes, matérias e editoriais das Vejas, Globos, Épocas, Folhas e Estadões da vida. Imagina a quantidade de "especialistas" que serão ouvidos até quarta-feira da semana que vem, quando a sessão recomeça.

Mas o tiro pode sair pela culatra : ouvido pelo site G1 logo depois do apagão protagonizado por Barbosa, Celso de Mello disse que seu entendimento sobre esse tipo de embargo não mudou e não mudará. Afirmou ainda que seu voto está pronto há muitos dias. A conferir, porque a artilharia do PIG não lhe dará tréguas até o dia da retomada do julgamento. Mas o ministro se vê diante de uma oportunidade de ouro para mostrar que não é apenas mais um juiz midiático e acovardado.

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