terça-feira, 24 de setembro de 2013

O dia em que a seleção soviética humilhou o ditador Pinochet

A vitória moral da URSS na Copa de 1974

Por Thiago Cassis, no Portal O Vermelho

Dizia o regulamento para a Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha, que uma das últimas vagas para aquele Mundial seria disputada entre uma seleção da América do Sul, que sairia do confronto entre Chile e Peru, e uma seleção europeia. Após uma disputada fase de grupos, a União Soviética foi definida como a representante da Europa na repescagem.

Depois de um confronto que precisou de três jogos para ser definido, o Chile eliminou o Peru e se credenciou para enfrentar a forte União Soviética, que havia deixado pelo caminho as seleções da Irlanda e da França.

Se durante as partidas decisivas contra o Peru a seleção chilena tinha como presidente Salvador Allende, não foi o que aconteceu quando chegou à repescagem contra a URSS. O jogo decisivo contra os peruanos foi disputado no dia 05 de agosto de 1973 e no dia 11 de setembro do mesmo ano um golpe, com apoio norte-americano, derrubava o então presidente eleito democraticamente.

Enquanto isso, a FIFA marcava a data para a disputa da vaga entre soviéticos e chilenos para os dias 26 de setembro na União Soviética e 21 de novembro no Chile.

Na partida de ida, apitada pelo árbitro brasileiro Armando Marques, as seleções empataram em 0 a 0 na capital Moscou.

A partida de volta, que definiria a seleção que iria disputar a Copa do Mundo, estava marcada para o Estádio Nacional. Após o golpe de Pinochet, esse estádio estava sendo utilizado para torturas e assassinatos a mando do ditador golpista. Após tomar conhecimento do fato, a federação de futebol soviética solicitou a alteração do local da partida aos organizadores chilenos.

Com a negativa chilena de alterar o local do jogo decisivo, os soviéticos não entraram em campo, desistindo de disputar a Copa do Mundo de 1974 em protesto às torturas e assassinatos realizados no Estádio Nacional. No telegrama enviado pela Agência Estatal de Notícias, os soviéticos, entre outras coisas, afirmavam que não poderiam disputar a partida em um estádio “salpicado com sangue de patriotas chilenos”.

A federação do Chile manteve a partida e os atletas chilenos foram a campo apenas para legitimar a desistência dos soviéticos. Em menos de 30 segundos, após uma rápida troca de passes, o jogador Valdés chutou para o gol vazio, já que a URSS não foi a campo, e decretou a vaga dos chilenos no mundial de 1974. (Veja o vídeo do gol abaixo)

O governo do ditador Pinochet, porém, pensou em um “plano B” para a ocasião e a equipe brasileira do Santos foi convidada a participar da “festa” pela classificação chilena. Um amistoso entre as duas equipes foi marcado para a mesma data. Com cerca de 20 mil ingressos já vendidos, os chilenos preferiram realizar outro jogo no lugar da partida contra os desistentes soviéticos.

Para tristeza dos organizadores o Santos, sem Pelé, que estava machucado, goleou a seleção chilena por 5 a 0 em pleno Estádio Nacional.

A União Soviética só voltou a disputar uma Copa do Mundo em 1982. Estreou justamente contra o Brasil de Socrátes e companhia e foi derrotada por 2 a 1.

O Chile foi à Copa do Mundo de 1974 onde caiu no grupo de Austrália, Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Os chilenos foram eliminados na primeira fase. Esse grupo ainda contou com a vitória da Alemanha Oriental sobre a Ocidental em plena casa dos ocidentais, mas essa já é outra história...

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