A vitória moral da URSS na Copa de 1974
Por Thiago Cassis, no Portal O Vermelho
Dizia o regulamento para a Copa do Mundo de 1974, disputada na
Alemanha, que uma das últimas vagas para aquele Mundial seria disputada
entre uma seleção da América do Sul, que sairia do confronto entre
Chile e Peru, e uma seleção europeia. Após uma disputada fase de
grupos, a União Soviética foi definida como a representante da Europa
na repescagem.
Depois de um confronto que precisou
de três jogos para ser definido, o Chile eliminou o Peru e se credenciou
para enfrentar a forte União Soviética, que havia deixado pelo caminho
as seleções da Irlanda e da França.
Se durante as partidas decisivas contra o Peru a seleção chilena tinha
como presidente Salvador Allende, não foi o que aconteceu quando chegou à
repescagem contra a URSS. O jogo decisivo contra os peruanos foi
disputado no dia 05 de agosto de 1973 e no dia 11 de setembro do mesmo
ano um golpe, com apoio norte-americano, derrubava o então presidente
eleito democraticamente.
Enquanto isso, a FIFA marcava a data para a disputa da vaga entre
soviéticos e chilenos para os dias 26 de setembro na União Soviética e
21 de novembro no Chile.
Na partida de ida, apitada pelo árbitro brasileiro Armando Marques, as seleções empataram em 0 a 0 na capital Moscou.
A partida de volta, que definiria a seleção que iria disputar a Copa do
Mundo, estava marcada para o Estádio Nacional. Após o golpe de Pinochet,
esse estádio estava sendo utilizado para torturas e assassinatos a
mando do ditador golpista. Após tomar conhecimento do fato, a federação
de futebol soviética solicitou a alteração do local da partida aos
organizadores chilenos.
Com a negativa chilena de alterar o local do jogo decisivo, os
soviéticos não entraram em campo, desistindo de disputar a Copa do Mundo
de 1974 em protesto às torturas e assassinatos realizados no Estádio
Nacional. No telegrama enviado pela Agência Estatal de Notícias, os
soviéticos, entre outras coisas, afirmavam que não poderiam disputar a
partida em um estádio “salpicado com sangue de patriotas chilenos”.
A federação do Chile manteve a partida e os atletas chilenos foram a
campo apenas para legitimar a desistência dos soviéticos. Em menos de 30
segundos, após uma rápida troca de passes, o jogador Valdés chutou para
o gol vazio, já que a URSS não foi a campo, e decretou a vaga dos
chilenos no mundial de 1974. (Veja o vídeo do gol abaixo)
O governo do ditador Pinochet, porém, pensou em um “plano B” para a
ocasião e a equipe brasileira do Santos foi convidada a participar da
“festa” pela classificação chilena. Um amistoso entre as duas equipes
foi marcado para a mesma data. Com cerca de 20 mil ingressos já
vendidos, os chilenos preferiram realizar outro jogo no lugar da partida
contra os desistentes soviéticos.
Para tristeza dos organizadores o Santos, sem Pelé, que estava
machucado, goleou a seleção chilena por 5 a 0 em pleno Estádio Nacional.
A União Soviética só voltou a disputar uma Copa do Mundo em 1982.
Estreou justamente contra o Brasil de Socrátes e companhia e foi
derrotada por 2 a 1.
O Chile foi à Copa do Mundo de 1974 onde caiu no grupo de Austrália,
Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Os chilenos foram eliminados na
primeira fase. Esse grupo ainda contou com a vitória da Alemanha
Oriental sobre a Ocidental em plena casa dos ocidentais, mas essa já é
outra história...
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