terça-feira, 1 de outubro de 2013

Freire : de dirigente comunista a capacho da direita

Em 1989, Roberto Freire se candidata à presidência da República pelo PCB. Dizia que era importante saber quantos eram os eleitores simpatizantes do comunismo no Brasil e que a candidatura era um palanque importante para a defesa das teses do partido. Embora tenha obtido uma votação bem modesta, Freire saiu do pleito com um bom saldo político. Fez uma campanha limpa, propositiva e ideológica, chegando a ser apoiado por alguns intelectuais de respeito. No segundo turno, fez o certo e marchou com o candidato da Frente Brasil Popular, Luis Inácio Lula da Silva. O contraste desse Freire com o dos dias de hoje é gritante. Não só parece, como é outra pessoa. Um político menor, rancoroso, que criou um partido para ser mera sublegenda do PSDB. A razão de viver desse ex-comunista passou a ser a  repulsa visceral e doentia ao PT, Lula e Dilma.

Amigos que o conhecem de perto garantem que a metamorfose se deu por conta do diabo do sentimento de inveja. Simples assim. Freire imaginava que para ele estava reservado o papel que coube a Lula na história do Brasil. Não desprezo as razões relacionadas às trevas da alma humana, mas prefiro ter como foco principal de análise a trajetória política de Freire e as conjunturas políticas em que ela foi forjada.

Logo depois de 1989, o ainda presidente nacional do PCB começara a dar sinais de sua simpatia pelo PSDB. Em 1992, ano da fundação do PPS, Freire foi um dos idealizadores, junto com tucanos de proa, de uma revista intitulada Socialismo do Século 21. A linha editorial dessa publicação já flertava com a desregulamentação dos mercados e do setor financeiro, com a privatização de "setores não estratégicos da economia" e com a tese cara aos neoliberais da ineficiência do setor público-estatal, com a consequente superioridade da iniciativa privada.

Em 1994, visivelmente a contragosto, Freire e o seu novo partido ainda integraram a frente de partidos que apoiou a segunda candidatura presidencial de Lula.Contudo, eram tantas as críticas à condução da campanha do candidato do PT, por um lado, e elogios rasgados a FHC e ao plano real, por outro, que mesmo os não iniciados nos meandros da política eram capazes de perceber que o então senador pernambucano estava de malas prontas para o outro lado.

Nas presidenciais de 1998, seu partido lança Ciro Gomes, egresso do PSDB, que chega em terceiro lugar. Freire já não perdia a oportunidade para estreitar laços pessoais e políticos  com tucanos de alta plumagem, sempre enaltecendo o ideário tucano em público.

Seus ataques ao PT se tornavam cada vez mais agressivos. Em 2002, o PPS repete a dose com Ciro, que derrotado no primeito turno ( ficou na quarta colocação, atrás de Garotinho) apoia decididamente a campanha vitoriosa de Lula, no segundo turno contra Serra. Sem alternativa, Freire segue Ciro, mas sem o menor entusiasmo. Ciro vira ministro da Integração Regional de Lula. Em 2004, o PPS rompe com o governo e Ciro migra para o PSB.

Em 2005, durante o cerco golpista midiático-parlamentar que se forma contra o governo Lula por conta do "mensalão", Freire se soma aos pefelistas e tucanos que babam de ódio contra o PT. Como prêmio, ele e seu partido amealham cargos nas administrações tucanas de São Paulo. O PPS assume, então, de uma vez a condição de partido satélite, de sublegenda do PSDB. Se os tucanos, vire e mexe, têm de fingir algum refinamento político, o PPS se prontifica, então, a fazer aquele tipo de oposição com golpes abaixo da linha da cintura.

Desterrado, sem voto e sem mandato no seu estado, Pernambuco, o cacique do PPS vira deputado federal por São Paulo pelas mãos de Serra. A partir de então o PPS abdica completamente de formular propostas para os municípios, os estados e o país. O negócio é atacar o PT, seus aliados, Lula e Dilma, com base no udenismo moralista mais tosco. O PSDB agradece.

O último programa partidário de rádio e tevê do PPS, levado ao ar na semana passada, é o corolário da degradação política do partido. Em meio a investidas virulentas e cobranças de fuzilamento político do PT e do governo, surge um transtornado Roberto Freire pedindo "cadeia para todos os mensaleiros", passando por cima do regimento do STF, do direito à ampla defesa e ao duplo grau de jurisdição.

 Ele que se prepare para o acerto de contas com a história.

 



Um comentário:

  1. esse cara, R. Freire, numa reportagem em televisão, assim "analisou" o julgamento do TSE negando a Marina/Rede: como um "tapetão", "eles venceram no tapetão" !... Sabemos que quando Freire diz "eles" visa , com sua hidrofobia cega, o PT. Se não for de acordo com seu pensamento odioso, qualquer julgamento de cortes superiores é tapetão; se for de acordo, é justo ("mensalão", "mensaleiros", cadeia, "maior caso de corrupção já existente no Brasil"... e por aí vai). Um caso patético, um triste fim.

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