quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Carta aberta ao novo ministro da Secom

Exmo.Senhor Thomas Traumann
Ministro da Secretaria de Comunicações
da Presidência da República

          Seja bem-vindo ao cargo de ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em substituição à jornalista Helena Chagas, que, com todo o respeito que merece, parte sem deixar saudades. 
          Não alimento a expectativa de que o senhor irá desengavetar o projeto de novo marco regulatório das comunicações elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins e solenemente ignorado pelo governo atual. Sei que esse gesto ousado não depende do senhor, mas da sua chefe, a presidenta Dilma.
          Só que a presidenta não parece nem um pouco disposta a enfrentar o monopólio midiático, haja visto a frequência com que repete a platitude "prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio da ditadura", esquivando-se da discussão central que é a urgência da quebra do monopólio como fator essencial para consolidar a democracia no Brasil.
          Bem, já que é irrevogável a decisão do governo de dar um tiro no pé, cuidemos, então, de outros assuntos ligados à sua pasta. Para dizer a verdade, sua trajetória profissional marcada por passagens pela Folha, Época e congêneres me deixa deveras desconfiado sobre seus projetos à frente da Secom.
          Contudo, só me resta alimentar  um fio de esperança de que o senhor esteja à altura dos desafios relacionados ao seu cargo.
           Terá o senhor coragem de meter a mão no vespeiro e operar mudanças profundas nos critérios de distribuição da milionária verba publicitária do governo ? Ou o baronato da mídia, capitaneado pela Globo, continuará se empanturrando de dinheiro público para financiar um jornalismo de quinta categoria, marcado pela distorção dos fatos, pela mesquinharia e pelo partidarismo mais escrachado ?
           Sua antecessora justificava tamanho estímulo à concentração antidemocrática da mídia da forma  mais simplória : "quanto mais audiência, mais verba; quanto mais leitores, mais dinheiro." 
           A jornalista Helena Chagas, portanto, passava ao largo da necessidade de apoiar as mídias digitais, responsáveis por uma verdadeira revolução nas comunicações. Tampouco entendia como obrigação de um governo de um partido de esquerda o fortalecimento da imprensa regional, popular e alternativa. 
           Em síntese, conceitos como pluralidade e diversidade, decididamente não norteavam as ações da ex-ministra. Não escondo a minha curiosidade sobre o que senhor pensa sobre todas essas questões, mas prometo conter minha ansiedade, já que logo ficarei sabendo a que o senhor veio.
           Na certa, não será preciso nem mesmo esperar pela execução orçamentária para que possamos conhecê-lo melhor. Uma declaração à imprensa aqui, outra acolá, já serão suficientes para saber se os lutadores pela democratização da mídia vislumbram  uma luz no fim do túnel ou tudo continua como dantes.

         Boa sorte.

         Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2013

         Bepe Damasco


           
            
            
            


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