sexta-feira, 14 de março de 2014

As lições da "rebelião" do PMDB

Não faltam análises responsabilizando uma subjetiva falta de jogo de cintura da presidenta Dilma como principal causa do atrito entre o governo e a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados. Mas o buraco é mais embaixo.Antes de qualquer coisa, vale a lembrança de que essa bancada é liderada por um político que é uma espécie de síntese do que há de pior na política brasileira : Eduardo Cunha. Imagina o nível de uma bancada que se deixa liderar por uma figura dessa estirpe. Mas seria um desperdício encarar o motim peemedebista apenas como mais uma estocada fisiológica para a obtenção de cargos e vantagens na esfera pública. É preciso aproveitar o deprimente episódio para jogar luz sobre a necessidade urgente de se mudar a forma de fazer política no Brasil.

O PMDB, que elegeu o vice-presidente da República na chapa da presidenta Dilma, ocupa cinco ministérios. Governadores filiados ao partido, como Sérgio Cabral do Rio, usufruem da condição de aliados preferenciais se fartando de receber investimentos federais. Sem falar nos acordos, parcerias e convênios como os que são firmados em profusão entre os governos federal e do Rio há sete anos. Sem exagero, dá para afirmar que sem os recursos federais o governo Cabral praticamente se limitaria a pagar a folha de salários dos servidores.

Pois justamente a bancada desse partido, a segunda maior da Câmara com 76 deputados, apela repentinamente para golpes abaixo da linha da cintura contra o governo. E as justificativas exalam déficit republicano por todos os poros : uma mistura de interesse contrariado na reforma ministerial
(a bancada queria porque queria indicar mais um ministro), demora na liberação das emendas dos parlamentares e diferenças com o PT na montagem dos palanques nos estados para as eleições deste ano.

Chamo a atenção para o nível rasteiro utilizado pelos liderados de Cunha para retaliar o governo Dilma. Primeiro declararam uma independência de araque do Planalto. Em seguida, serviram aos própósitos mais politiqueiros, antinacionais e mesquinhos da oposição, seja aprovando a criação de uma patética comissão externa para investigar uma vaga denúncia na Holanda contra funcionários da Petrobras, seja convocando uma carrada de ministros para prestar esclarecimentos às suas excelências na Câmara.De quebra, se colocaram contra a liberdade de expressão e os interesses da sociedade anunciando que derrubariam o projeto do marco civil da internet.

Ah, entre os ministros convocados está o da Saúde, Arthur Chioro. A intenção óbvia dos deputados peemedebistas é se somar à oposição tucana para alvejar o vitorioso programa Mais Médicos, um dos trunfos da presidenta Dilma na sua campanha de reeleição. Então, que independência é essa ? Na verdade, o comportamento da bancada é de oposição. E o tipo de oposição com o jeito demotucano  de ser, ou seja, contra o Brasil. Como decidir investigar a Petrobras no dia em que a maior empresa do país fazia uma bilionária captação no exterior ? Como atingir a empresa responsável por um projeto vital para a emancipação do país, como o pré-sal ?

Até quando haverá espaço no Brasil para tentativas expressas de chantagnes como essas ? No carcomido sistema político brasileiro, a presidenta Dilma, infelizmente, terá que se recompor minimamente com os rebelados do PMDB, para assegurar a governabilidade nos meses que restam de seu governo. Mas a reforma política no Brasil, única maneira de inibir a ação dos eduardos cunhas da vida, só será conquistada nas ruas. Ao seu bel prazer o Congresso Nacional jamais votará uma reforma que mereça esse nome.






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