terça-feira, 14 de abril de 2015

Para sair das cordas e partir para o ataque

Agora que a histeria golpista das manifestações da direita dá sinais nítidos de arrefecimento, está mais do que na hora de o governo Dilma romper o cerco em que se encontra, tomar a iniciativa do combate e acuar o adversário. Todos sabemos que é difícil ganhar por nocaute, mas por pontos ainda é possível. Basta um mínimo de coragem política. No day after do fracasso dos coxinhas, Dilma foi bem. Pela primeira vez, criticou com a contundência necessária a redução da maioridade penal. Pensei em dez ações com potencial para fazer com que o governo vire a página dos terríveis primeiros 100 dias, refaça as pontes com quem a elegeu e imponha baixas ao inimigo.

1) Seguir criticando a redução da maioridade penal. De preferência, subindo o tom à medida em que o debate no Legislativo e na sociedade se acirrar.

2) Dilma deve deixar claro (de forma veemente e não do jeito adocicado como fez na semana passada) que seu governo é contra o PL 4330 e que não tem nada a ver com isso. O movimento dos analfabetos políticos não hesitará em usar as redes sociais para poupar os carrascos da CLT, que evidentemente são Cunha e os deputados que votam com ele, e responsabilizar Dilma. Disseminar mentiras e calúnias é com eles mesmos.

3) Como é preciso zelar pela maldita governabilidade, ganha cada vez mais importância o papel do vice-presidente Michel Temer como articulador político do governo. Além de pôr um freio no parlamentarismo das trevas de Cunha, isso ajuda na colagem de cacos da base no Congresso,

4) A esta altura não é mais possível retirar do Congresso as MPs 664 e 665 que dificultam o acesso a direitos previdenciários e trabalhistas, pois o sinal emitido seria de falta de rumos e fraqueza do governo. Mesmo assim , é perfeitamente possível negociar com os parlamentares e com as centrais sindicais apenas ajustes nas distorções, deixando de fora das MPs penalizações escrachadas aos trabalhadores, como o aumento do prazo mínimo necessário para a obtenção do seguro desemprego.

5) Acelerar o processo de fechamento dos acordos de leniência com as empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato, a exemplo do que já está praticamente acertado com a Engevix. Isso é fundamental para salvar a engenharia nacional e preservar centenas de milhares de empregos. Ao mesmo tempo, empreender esforços para mostrar à opinião pública que esses acordos nada tem a ver com impunidade e tampouco com perdão do que foi desviado. Ainda sobre a Lava Jato, a publicação do balanço da Petrobras é um passo decisivo para a empresa e para o Brasil. Tomara que não demore.

6) Entrar de sola no debate da reforma política. Caso contrário, a Câmara dos Deputados, primeiro, e o Senado, em seguida, estarão a cavaleiro para aprovar um arremedo de reforma, com consequências catastróficas para o sistema político brasileiro, que ficaria ainda pior.

7) O ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, declarou recentemente que o governo desistiu de enviar agora um projeto de regulação econômica da mídia para o Congresso. Disse que prefere ouvir mais a sociedade e recolher propostas e sugestões, de forma a formatar um projeto com mais respaldo político e social.. Se é isso, mãos à obra, senhor ministro. O governo é fundamental para destravar esse debate, afinal, essa interdição só interessa aos coronéis da mídia, não ao povo brasileiro.

8) Enquanto a regulação não vem, entender, enfim, que é preciso travar uma guerra diária contra o massacre midiático. O novo ministro da Secom, Edinho Araújo, entraria para a história se fizesse com que o governo parasse de irrigar os cofres da mídia mais canalha do planeta. Mas se desconcentrar fortemente as verbas publicitárias destinadas ao PIG já será um avanço. Fora isso, o óbvio : Dilma ter que superar, nem que seja no tranco, sua falta de gosto pela política, aparecer mais, falar mais, usar mais as redes sociais, polemizar mais. Falta a ela e a seus ministros uma política articulada de comunicação que não deixe ataque sem resposta e que dê mais visibilidade às ações do governo.

9) Superar a fase apenas retórica de diálogo com as entidades da sociedade e movimentos sociais, avançando para um processo orgânico e permanente de consultas e conversas produtivas com os movimentos. O que não pode continuar acontecendo é as centrais sindicais tomarem conhecimento do ajuste do Levy na véspera do passagem do ano, e pela imprensa. Isso depois de a presidenta ter se comprometido com os dirigentes sindicais a não tomar nenhuma medida que afetasse os trabalhadores sem ouvi-los.

10) É urgente a definição dos rumos estratégicos do governo. Coisa do tipo de onde partimos e onde queremos chegar. Se o governo diz que está superado modelo baseado no consumo e que o ajuste de Levy é transitório, o que Dilma  propõe para colocar no lugar, com que cronograma e a partir de que políticas macroeconômicas definitivas ?


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